Quase uma semana após a prisão do fonoaudiólogo de 30 anos, por estupro de vulnerável, famílias seguem procurando a Depca (Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente), suspeitando que os filhos sejam vítimas. Nesta terça-feira (15), mais dois meninos, de 5 e 8 anos, confirmaram que sofreram abusos por parte do acusado.
Assim, conforme a delegada Fernanda Félix, titular da Depca, somam três vítimas confirmadas que sofreram abusos por parte do fonoaudiólogo, que atendia em uma clínica na região central de Campo Grande. A Depca ainda vai pedir uma lista dos pacientes atendidos pelo acusado para buscar outras possíveis vítimas.
Ainda conforme a delegada, já foi instaurado inquérito sobre o segundo caso de estupro descoberto. Na quarta-feira (16) será emitido ofício para que o fonoaudiólogo seja escoltado do presídio até a Depca, para prestar esclarecimentos sobre o caso. Inquérito sobre a terceira vítima também é instaurado.
Na delegacia, as outras crianças ouvidas não relataram terem sofrido abusos. “Isso não significa que não foram vítimas”, relatou a delegada. São crianças com algum problema na fala, que não conseguem se expressar, o que significa que talvez possam ter sido vítimas, mas não conseguiram comunicar no depoimento. Por isso, foi recomendado aos pais o acompanhamento psicológico de todas as crianças.
Mãe de um menino de 3 anos que procurou a Depca na última semana, ao ver a notícia da prisão e lembrar que o filho sentia desconforto nas consultas, se sentiu aliviada ao saber que o filho não relatou abusos em depoimento especial, feito com acompanhamento de psicóloga. Ela acredita que o menino não estava no ‘perfil’ das vítimas do fonoaudiólogo.
Isso porque a criança fazia sessões de aproximadamente 30 minutos e teve pouco contato com o acusado, não tendo tempo de que ele conquistasse a confiança do menino. Ao todo, 7 famílias já procuraram a delegacia. O fonoaudiólogo segue preso preventivamente.
Mãe relatou pesadelo que está vivendo
“Faz 5 dias que estou em choque, sem dormir”, relatou a mãe de um menino de 5 anos ao Jornal Midiamax. Segundo a mulher, o filho dela começou o tratamento na clínica quando tinha 2 anos de idade. Diagnosticado com TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade), o menino passou a fazer tratamento com uma fonoaudióloga mulher.
No entanto, como o acusado era apresentado como fonoaudiólogo especialista no atendimento de crianças com autismo, o menino passou a fazer as sessões com ele, em abril de 2021. A primeira suspeita da mãe foi em novembro de 2021. Logo após a consulta, o menino saiu da sala em choque, fato que a mulher estranhou.
“Ele não olhou na minha cara”, disse a mãe, relatando que o menino entrou no carro segurando o pirulito, sem dizer uma palavra. A mulher então mandou mensagem para o especialista, perguntando o que tinha acontecido. “Nada, ficamos quietinhos”, teria respondido. Depois, ele mandou outras mensagens e também áudios, desconexos, como se tentasse se explicar.
Após a notícia divulgada no dia da prisão do acusado, a mulher ficou em choque. “Ele fez coisas horríveis com meu filho. Estava brincando de molestar”, disse. A mãe ainda conversou com o menino, que deu alguns relatos do que tinha acontecido. Em uma ocasião, o filho teria dito: “O tio é menina, saiu leite dele”.
Bastante abalada, a mulher relatou que está vivendo um pesadelo. O filho chegou a questionar o que significava o sinal de ‘zíper’ na boca, dando a entender que o fonoaudiólogo teria feito o gesto para a criança, pedindo o silêncio dela sobre os abusos. Para a mãe, o especialista teria agido “de caso pensado”, já que atendia crianças que não conseguem se comunicar.
A mulher ainda teria dito para o filho que o levaria em outra fono, indicada por uma amiga. “O tio não está passando atividade, o que ele está passando?”, questionou ao filho que respondeu: “É mesmo mamãe, ele fica só chacoalhando o pipi”.
Indignada, a mãe ainda relatou a necessidade de câmeras nas salas de atendimento das crianças, para que os pais possam saber o que acontece nas sessões, ou mesmo câmeras para monitoramento interno da própria clínica. O proprietário da clínica também foi intimado para prestar esclarecimentos.
Prisão em flagrante
No fim da tarde do dia 9 de março, o fonoaudiólogo foi preso em flagrante em Campo Grande, por estupro de vulnerável no Centro de Campo Grande. Ele foi encaminhado para a Depca (Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente).
Para o Jornal Midiamax, o advogado da família da vítima, Silvio de Almeida, relatou que o menino já fazia o tratamento com o fonoaudiólogo há 5 meses. Recentemente, ele teria conversado com o irmão mais velho, de 10 anos, que também já fez sessões de fonoaudiologia.
O caçula então perguntou se era normal que o fonoaudiólogo passasse a mão nos órgãos genitais. O irmão disse que não e orientou a criança, que contou sobre o ocorrido para a mãe. O menino teria um atendimento na quinta-feira, mas como não poderia acompanhar, a mãe adiantou para a quarta.
Ela acompanhou o filho, ficou na recepção e pediu para ele sair correndo da sala e gritar caso alguma coisa acontecesse. Assim, com 15 minutos de sessão o menino saiu chorando, aos prantos, da sala. A mulher foi até a sala do fonoaudiólogo, com uma testemunha, e o deteve até a chegada da polícia.
O profissional teria colocado a criança na maca, passado a mão na barriga do menor e, depois, teria tocado as partes íntimas do garoto. O homem, de 30 anos, foi preso em flagrante, mas tentou negar o crime. ‘Não fiz nada’, disse. Já o menino prestou esclarecimentos em depoimento especial, acompanhado de psicóloga, confirmando novamente os abusos.
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