O dia 14 de março é o Dia Mundial do Rim, criado com o objetivo de alertar sobre a Doença Renal Crônica, decorrente de uma alteração tanto da estrutura quanto da função dos rins. Profissionais de hospitais vinculados à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) explicam que se trata de um problema de saúde mundial, incrementado devido a fatores de risco e que podem levar a desfechos desfavoráveis, como a necessidade de hemodiálise. Eles abordaram a importância da campanha, o diagnóstico e os tratamentos existentes hoje no Sistema Único de Saúde (SUS), que conta com toda a linha de cuidado para pacientes renais.
O chefe do Serviço de Nefrologia do Hospital Antônio Pedro, da Universidade Federal Fluminense (Huap-UFF/Ebserh), Elias Assad Warrak, explicou que a insuficiência renal pode ser aguda ou crônica, sendo que no primeiro caso ela se desenvolve em pacientes com rins previamente sadios, nos casos de uma agressão aguda aos rins, como uma septicemia, um choque hipovolêmico (hipotensão severa por algum sangramento importante) ou medicamentos nefrotóxicos, ou, ainda, qualquer combinação destes fatores.
Já a insuficiência renal crônica quase sempre é silenciosa. Suas principais causas são a hipertensão arterial e o diabetes. “Nestes casos, a doença só costuma manifestar sinais e sintomas quando já está em fase avançada. E o que todas têm como característica é a incapacidade dos rins de filtrar o sangue e eliminar devidamente os líquidos e os restos do metabolismo. Com isso, os líquidos e as várias toxinas que deveriam ser eliminadas se acumulam, acarretando inúmeras complicações”, explicou.
Segundo ele, os tipos de tratamento incluem a hemodiálise, a diálise peritoneal e o transplante renal, seja de doador vivo ou falecido. Daí a importância da campanha, cujo tema este ano é “Saúde dos rins (& exame de creatinina) para todos: porque todos têm o direito ao diagnóstico e acesso ao tratamento”.
Campanha estimula diagnóstico precoce
“Campanhas como o Dia Mundial do Rim contribuem para aumentar o alerta a respeito da Doença Renal Crônica (DRC), estimular o diagnóstico precoce e promover o tratamento adequado de pacientes que possuem fatores de risco para a doença”, explicou o nefrologista Leandro Cetto Spadette, do Hospital Universitário Cassiano Antonio Moraes, da Universidade Federal do Espírito Santo (Hucam-Ufes/Ebserh). O hospital possui atendimento especializado em Nefrologia em todos os segmentos, seja ambulatorial ou hospitalar.
“O Serviço de Nefrologia do Hucam é completo: internação dos pacientes em enfermaria especializada, hemodiálise ambulatorial e intra-hospitalar em serviço de agudos, diálise peritoneal, realização de biópsia renal, atendimento ambulatorial, entre outros”, disse o médico, que alerta para a importância de hábitos saudáveis e exame periódico para a saúde dos rins, além de atenção com as doenças associadas.
Rede pública oferta exames
O gerente de Atenção à Saúde do Hospital Universitário da Universidade Federal do Maranhão (HU-UFMA/Ebserh), o nefrologista Dyego José de Araújo Brito, ressaltou a importância dos exames na triagem inicial – creatinina e exame simples de urina – que estão disponíveis na rede pública, são fáceis e baratos. Mas afirma que ainda há obstáculos no cuidado ao paciente, principalmente devido à falta de informação sobre a gravidade da doença e da dificuldade de acesso das populações que vivem em áreas mais remotas.
“Os rins são órgãos importantes para a eliminação das toxinas, controle da quantidade de líquidos e eletrólitos, manutenção da pressão arterial, produção e metabolismo de hormônios fundamentais para o bom funcionamento do nosso organismo. A disfunção dos rins causa uma série de doenças que são graves, frequentes, mas que podem ser prevenidas e tratadas”, disse, ressaltando a necessidade de exames, ingestão de água (30 ml para cada quilo de peso, em condições normais) e hábitos saudáveis.
Médica aponta hábitos saudáveis e avanços
A nefrologista Márcia Cristina Razuk Jorge, do Hospital Universitário Márcia Aparecida Pedrossian, da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (Humap-UFMS/Ebserh), explicou que estes hábitos envolvem uma alimentação saudável, atividades físicas, controle de: pressão arterial, glicemia, colesterol e triglicérides, além de combate à obesidade e evitar medicamentos que afetam os rins, como anti-inflamatórios. Segundo ela, o Humap atende pacientes em todas os estágios da DRC.
A médica disse que houve avanços nesta área, com melhora da qualidade técnica das equipes, avanço no conhecimento de novas drogas que atuam na progressão da doença renal e nas terapias dialíticas, disponibilização de medicamentos de alto custo na rede pública e especializações na formação de nefrologistas, com aumento no número de vagas na residência médica.
O professor de Medicina e Nefrologia e diretor da Divisão de Diagnóstico do Hospital Universitário Edgard Santos, da Universidade Federal da Bahia (Hupes-UFBA/Ebserh), Antonio Raimundo Almeida, disse que a Nefrologia está entrando em uma fase de terapia personalizada, com medicamentos de precisão, mas é importante que as pessoas façam exames e tomem medidas de prevenção, incluindo dosagem de creatinina no check-up anual e procurar o médico quando houver doenças associadas, como diabetes.
Meta é evitar necessidade de tratamento complexo
Nefrologista no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (HC-UFMG/Ebserh), Jenaíne de Oliveira Paixão ressaltou a importância do diagnóstico precoce. “É preciso trabalhar na prevenção e evolução da doença, porque quando o paciente precisa da terapia substituta (hemodiálise ou diálise peritoneal), o tratamento se torna mais difícil tanto para o paciente quanto em termos financeiros, muito mais dispendioso que fazer a prevenção na saúde primária e na saúde complementar”, disse.
A especialista explicou que o hospital conta com toda a linha de cuidado do paciente com DRC, desde o diagnóstico até a terapia substituta e o transplante. “Os pacientes são acompanhados ambulatorialmente, para controle das comorbidades envolvidas no comprometimento da função renal, até os estágios mais avançados, quando a gente faz uma decisão compartilhada com o paciente pela terapia renal substitutiva, levando em conta as especificidades do caso clínico e das comorbidades”, disse.
Há casos que não têm indicação para terapias substitutas e conseguem, com medidas dietéticas e medicamentosas, manter a qualidade de vida. A aposentada Zenith Maria Simões da Silva, da Grande Vitória (ES), por exemplo, foi diagnosticada com síndrome nefrótica. Ela faz tratamento no Hucam há 20 anos. “Tomo a medicação regularmente, faço os exames, tomo água, sigo as recomendações da alimentação e me sinto bem”, afirmou.
Sobre a Ebserh
Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 41 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Comentários