“A gente fala desde sempre que matamos um leão por dia e com essa pandemia não foi diferente. Tivemos o problema do preconceito da gente ter a vacina primeiro, das fake news, mas conseguimos superar. A população aqui graças a Deus se conscientizou. O começo foi muito difícil, mas lidamos bem e hoje estamos com quase 100% das aldeias vacinadas e a doença controlada, de certo modo”.
A fala acima é de Izael Morales, indígena da etnia terena que é capitão da aldeia Jaguapiru, na Reserva Indígena de Dourados. A área que compreende também a aldeia Bororó, abriga mais de 17 mil pessoas, principalmente das etnias terena, guarani e kaiowá. É a maior comunidade indígena de Mato Grosso do Sul e a maior em área urbana do país.
Hoje, 19 de abril, celebra-se oficialmente o Dia do Índio. Segundo Morales, a data é importante, mas todos os dias a memória sobre as necessidades dos indígenas deve ser lembrada também.
“Antes da pandemia já era muito difícil a nossa realidade aqui. A gente tem muitos problemas de falta d’água, violência, que não é novidade. Agora temos ainda a pandemia, essa doença que preocupa muito e trouxe para a gente ainda mais necessidades. É complicado, então sempre pedimos para as autoridades que olhem para nós. A gente precisa de segurança, de água, de atenção”, explicou o líder terena.
86 indígenas morreram de Covid no Estado, sendo 12 em Dourados
Conforme dados de 9 de abril do Boletim Epidemiológico da Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena) e Dsei (Distrito Sanitário Especial Indígena) em Mato Grosso do Sul, o total de casos confirmados entre indígenas é de 4.329. O número de mortos é de 86 pessoas. Esse é o boletim mais recente divulgado pela Saúde Indígena.
Em Dourados, são 12 mortes por Covid-19 em meio a população das aldeias Jaguapiru e Bororó. O município é o terceiro com a maior incidência de óbitos nas comunidades tradicionais, ficando atrás somente de Aquidauana, com 30 e Miranda, com 22.
Desde o dia 5 de abril, a reportagem do Dourados News tenta, sem sucesso, dados atualizados em números sobre o andamento da vacinação na Reserva de Dourados, que começou em 19 de Janeiro. No entanto, até o momento da publicação desta reportagem, não fomos atendidos na solicitação.
O primeiro caso de coronavírus confirmado dentro de comunidade indígena em Mato Grosso do Sul foi em Dourados. No dia 13 de maio do ano passado, a SES (Secretaria Estadual de Saúde) informou sobre uma mulher de 35 anos, que testou positivo para Covid-19.
Ela era funcionária em um frigorífico da cidade, o que acabou por gerar ações emergenciais de contenção na empresa e também dentro das aldeias, para que o vírus não se espalhasse rapidamente entre a comunidade que é vulnerável e por esse motivo está, por exemplo, no primeiro grupo prioritário para vacinação.
Os próprios indígenas estabeleceram barreiras sanitárias e campanhas internas de conscientização sobre distanciamento e hábitos de higiene para evitar a disseminação do vírus. Mais recentemente, também promoveram campanhas entre os mais tradicionais da comunidade para combater a onda de fake news contrárias à vacina, que correu pelas aldeias (confira aqui).
Comentários