A estudante Emanuela Rocha Diniz, de 24 anos, denunciou o médico Fabio Derliz Benítez, por assédio e agressão após levar uma mordida no ombro, dentro de um hospital em Concepción, no Paraguai. A jovem natural de Xambioá, norte do Tocantins, mora há sete anos no país vizinho para cursar medicina. Ela também relata episódios em que o médico pediu beijos e a pressionava para se encontrar com ele.
A estudante está morando desde julho deste ano em Concepción, onde faz internato no Hospital Regional da cidade. As denúncias são de violência física, psicológica e sexual. O médico era tutor dos alunos e chefe de cirurgia do hospital onde Emanuela faz internato e ainda mora próximo da casa da jovem.
O caso teria acontecido em novembro deste ano e Benítez foi afastado das funções na universidade onde ela estuda e do hospital. O médico disse que o caso está nas instâncias correspondentes e que 'confia que tudo será resolvido.'
A estudante contou que recebeu diversas ‘cantadas’ e convites do médico. Mas no dia 24 de novembro, dentro do hospital e durante um plantão, ele chegou a abraçá-la, pedir beijos e ao ser rejeitado, ele teria dado uma mordida no ombro de Emanuela.
Antes desse episódio de agressão, ela começou a achar estranho quando o médico passou a antecipar notas dela, mas a estudante pensou que isso seria feito com todos os colegas.
“Num primeiro momento, quando ele me deu essas notas, eu não tive consciência de que ele esperava algo em troca. Depois desse ocorrido, ele começou a mandar mensagem para mim me convidando para jantar”, disse.
Pouco antes da mordida, ela relembrou que ele chegou a fazer convites para que ela jantasse com ele e até a chamou para ir à casa dele. Esses e outros abusos teriam acontecido na antessala do quirófano, local usado para que os médicos assistam cirurgias.
“Ele me abraçou, começou a sussurrar no meu ouvido que queria que eu jantasse com ele, me chamou para a casa dele. Eu neguei. Eu não retribuí o chamado para jantar com ele, falei que não poderia. Em um segundo momento eu voltei à antessala do quirófano para pedir o carimbo para ele, foi quando ele me pediu um beijo nele. Falou que me daria se eu desse um beijo nele e onde eu não retribuí também. Pedi para o outro doutor para poder disponibilizar os medicamentos para os pacientes e saí”, afirmou.
Nesse dia, o médico ainda teria, segundo a estudante, a castigado e não a deixado assistir a um procedimento como represália.
“Quando eu voltei, eles já estavam em cirurgia, ele e meu companheiro, porque eu estava fazendo dupla com ele na ‘guardia’, que era o plantão."
A mordida
Depois da cirurgia em questão, que Emanuela não participou, ele teria a encontrado na antessala para troca de roupa. Foi nesse local que ele sentou ao lado dela e deu uma mordida no ombro da jovem, isso acompanhado de mais assédio.
“Ele se curvou diante de mim e me pediu um beijo, falou que queria me beijar e eu neguei. Falei que não, que tenho namorado. Foi quando ele fez piadinha, falou que não teria problema nenhum, que estava tudo bem, e se sentou do meu lado, continuei falando que não queria, que não era certo. Foi quando ele me abraçou, começou a me manusear, me apalpou na perna, nas minhas coxas e na minha nádega lateralmente. E logo em seguida ele me deu uma mordida”, disse.
A estudante relembrou que ficou sem saber o que fazer após a atitude do médico. Chegou a questionar a atitude do médico, mas não conseguiu respostas.
“Naquele momento eu não tive uma reação de levantar, mas eu reclamei com ele, porque naquele momento eu fiquei em choque, eu não soube como reagir porque ele já tinha ameaçado outras companheiras minhas de reprovar e outras coisas. Então eu continuei sentada, em choque. Eu não conseguia levantar porque naquele momento eu fiquei tão nervosa que parece que minha perna travou”. A estudante só conseguiu se mexer depois que uma colega chegou e percebeu o clima ruim causado pela agressão.
Denúncia
Emanuela resolveu denunciar o caso às autoridades paraguaias e registrar um boletim de ocorrência. Também contou sobre os assédios nas redes sociais e o caso repercutiu na imprensa local. Fabio Derlis é um médico conhecido na região e possui um cargo de chefia na Universidade Politécnica e Artística em Concepción, onde a jovem estuda.
A Justiça do Paraguai decretou uma medida protetiva e proibiu o médico de se aproximar da aluna. Ele também foi afastado de todas as funções na universidade e no hospital.
O Ministério da Saúde do Paraguai informou que adotou todas as providências cabíveis e disse que tem compromisso com um ambiente de trabalho onde se prioriza a segurança e integridade dos seus colaboradores.
Questionado pela TV Anhanguera sobre a denúncia, o médico Fabio Derliz disse que o caso está nas instâncias correspondentes e "confia que tudo vai se resolver o mais rápido possível."
Sentimento de medo e insegurança
Depois de passar pelo assédio, Emanuela afirmou que enfrenta episódios de crise de ansiedade e julgamentos. Também disse que isso atrapalhou o andamento do internato e que teve medo de encarar os colegas e pessoas até mesmo na rua.
“Eu não queria ver ninguém porque eu tinha medo e tinha vergonha. Eu me senti culpada porque houve pessoas que me culpou, que talvez eu tinha dado permissão para ele fazer o que fez, como meu vizinho poderia ter permitido ele me abordar da forma que abordou. A sociedade te faz sentir culpada como se o que tivesse acontecido com você fosse culpa sua, por uma roupa, por uma forma de falar, qualquer que seja o motivo”, lamentou.
Como precisa ficar até maio de 2024 no Paraguai, quando termina o internato, Emanuela quer que possa ter segurança para terminar a última etapa da formação.
“Até maio eu tenho que enfrentar essa situação, e que eu tenha mais segurança possível e que eu consiga proteção”.
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