A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) enviou duas mensagens de áudio ao hacker Walter Delgatti Neto, no ano passado, pedindo a ele para localizar o endereço de um integrante do STF (Supremo Tribunal Federal), em Brasília.
Preso desde agosto deste ano, Delgatti afirmou à PF (Polícia Federal) e à CPMI dos Atos Golpistas que foi contratado pela parlamentar para participar de ataques à credibilidade das urnas eletrônicas, aos sistemas do Judiciário e ao ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes.
O hacker foi citado em vários trechos do relatório final da CPMI, aprovado na última quarta-feira, dia 18 de outubro.
Procurada pela reportagem, Zambelli diz – mesmo após ouvir os áudios e ver o "print" das mensagens – que não se lembra do contexto da conversa, ocorrida há quase um ano. A parlamentar afirma que "certamente não era nada ilícito".
Zambelli diz ainda que não tem como verificar o contexto da conversa porque seu celular foi apreendido pela Polícia Federal, no contexto da apuração sobre o hacker. A deputada afirma que contratou Delgatti para cuidar de suas redes sociais e seu site, mas nunca pediu que ele cometesse crimes.
A defesa de Zambelli refuta as acusações feitas por Delgatti e diz que a deputada "desconhece o contexto dessa conversa divulgada". Leia a nota na íntegra.
Delgatti encaminhou os dois áudios de Zambelli para um amigo dele que mora no interior de São Paulo, junto com mensagens atribuídas à parlamentar.
Segundo investigadores, o hacker tinha o costume de exibir a pessoas próximas que mantinha relações com políticos e famosos.
O print de tela indica que Delgatti encaminhou os áudios no dia 26 de novembro de 2022. Três dias antes dessa data, Moraes, presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), havia rejeitado uma ação que contestava a eleição e multado em R$ 22,9 milhões o PL, partido de Zambelli e do ex-presidente Jair Bolsonaro.
"Ô Walter, não aparece nenhum endereço de Brasília, né? Precisava do endereço daqui de Brasília", diz a voz de Zambelli no primeiro arquivo de áudio, com duração de seis segundos.
"Não, não pode ser, porque quadra é prédio, e ele deve morar numa casa no Lago Sul, alguma coisa assim. Deve ser coisa do STF. Isso provavelmente deve estar nos arquivos do STF como casa... casa tipo... funcional, entendeu?", diz a parlamentar no segundo áudio, de 18 segundos. Veja o print e o ouça os áudios abaixo:
De acordo com o advogado do hacker, Ariovaldo Moreira, seu cliente afirma que os áudios tratam do endereço de Alexandre Moraes e comprovariam que a relação entre Zambelli e Delgatti não se restringiu a serviços de administração de redes sociais, como ela afirmou anteriormente. A defesa pretende entregar os áudios à Polícia Federal, que já investiga a conduta do hacker.
Além dos áudios, Delgatti também encaminhou a seu amigo mensagens nas quais Zambelli teria dito: "Já publicou? E a decisão que fizemos? Essas contas são dele mesmo? Ah, precisava do endereço dele aqui em Brasília....". Logo em seguida, Delgatti menciona "Xandão". Não é possível afirmar a que essas mensagens se referem.
Delgatti está preso por causa da invasão ao sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) que resultou na expedição de uma falsa ordem de prisão contra Moraes assinada pelo próprio ministro. A inserção do documento falso no CNJ foi registrada em 4 de janeiro deste ano — mais de um mês depois do envio dos áudios.
O hacker disse à PF que o falso mandado de prisão foi escrito por Zambelli e colocado no sistema do Judiciário por ele, depois de ter feito correções de português. A PF procura provas que vinculem a deputada ao crime de invasão do CNJ. Peritos analisam celular, HD e computador apreendidos com Delgatti.
Na quarta passada, a CPI dos Atos Golpistas aprovou seu relatório final com o pedido de indiciamento de Zambelli.
Para a comissão, o objetivo da deputada "não era o de simplesmente questionar as urnas eletrônicas, mas se utilizar da aparente dúvida maliciosamente incutida na população a respeito da lisura do pleito para que o plano golpista de Jair Messias Bolsonaro fosse colocado em prática". O relatório se baseia no envolvimento de Zambelli com Delgatti.
Nota da defesa de Carla Zambelli
A defesa da deputada Carla Zambelli novamente refuta e rechaça qualquer acusação de prática de condutas ilícitas e/ou imorais contra a parlamentar. Ressalte-se que ela desconhece o contexto dessa conversa divulgada, nem para quem e de quem se referia.
Igualmente, nem se sabe como obtidas. Recorde-se ainda que o senhor Walter Delgatti, além de criminoso condenado, é um meliante contumaz, conhecido por invadir a privacidade das pessoas e manipular dados digitais. Dessa forma, além de inválidos, a gravação e demais elementos apresentados são inidôneos e ilícitos, sob qualquer ótica.
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