Elas viveram décadas na mesma rua, mas se pudessem morariam até na mesma casa
Não é novidade que ser feliz em qualquer lugar ou nas relações exige uma coisa: fé nas pessoas. Isso dá certo na prática? Nem sempre. Muitas vezes a fé ou vontade é abalada pelas diferenças que “desconectam” um do outro. Mas como pessoas tão diferentes podem viver tanto tempo juntas sendo amigas? Foi em uma Festa Junina da Rua Japão, onde vizinhos se reúnem há 17 anos, que duas mulheres já de cabelos brancos deram uma resposta.
Na hora pensei nas duas como personagens ideais para o Dia do Amigo, celebrado hoje, 20 de julho. Esmeralda e Petronilha são amigas há mais de 60 anos. Uma mora no Marcos Roberto e a outra no Universitário, mas se veem praticamente toda semana. Uma delas diz que é capaz de “infernizar” qualquer um para ser levada até a casa da amiga.
Mas não é preciso de inferno, a própria família respeita e admira a amizade das duas, a ponto dos filhos não esquecerem que as duas precisam se ver, por isso, a cada fim de semana um sempre dá um jeitinho de levar Esmeralda até a casa de Petronilha. Foi assim na festa do último fim de semana.
Antes, quando Esmeralda Sanches Imolas, morava na mesma rua que Petronilha, que se chama Basicia Domingues Steche, mas prefere ser chamada pelo apelido, as duas se viam todos os dias.
Mas depois de quase 50 décadas na mesma rua, Esmeralda ficou viúva e foi morar em outro endereço. Por isso, é preciso contar com ajuda da família para que possam se encontrar. Hoje, as duas têm 80 anos de idade, mas isso é só um detalhe. O papo é o mesmo desde a juventude, sempre com direito a risada e cafezinho.
Mas o que abriu espaço para cada uma acompanhar a jornada da outra de camarote, sem que o sentimento se perdesse ao longo do tempo, como acontece em diversas amizades. Petronilha responde: “A gratidão, muita gratidão”. Já Esmeralda faz um acréscimo. “A gratidão e o caneco”, brinca, lembrando do tempo que ainda tomavam cervejinha e curtiam juntas as festas em família.
“Passamos muito Natal e Ano Novo juntas. Dava meia noite e a gente enchia o caneco juntas. Era só alegria, sem briga, sem falta de respeito. Tinha compreensão”, descreve Esmeralda.
No dia a dia, na mesma rua, a visita era constante. Para um cafezinho ou para falar do cansaço naquele dia com os filhos, a escuta era presente. Na visão de Esmeralda, permanecer e acompanhar a vida da amiga só foi possível porque não havia julgamento. “Nós somos diferentes, todo mundo é, mas eu nunca julguei ela. Sempre a escutei e ela sempre me escutou. Acho que esse é o segredo”.
Dona Petronilha também reforça a gratidão capaz de superar qualquer diferença no dia a dia. “Uma sempre cuidou da família da outra, vimos os filhos crescerem juntos, brincando na mesma rua. É um sentimento de gratidão muito grande”.
Ser ela mesma com Esmeralda só fortaleceu a amizade, a ponto de se ver triste pela distância. “Eu fico triste por ela morar longe. Se eu pudesse continuava na mesma rua. Eu queria até que ela morasse comigo”, diz Petronilha.
Por isso, o jeito foi se adaptar e infernizar se for preciso. “No fim de semana eu vou almoçar lá na casa dela, ela já me convidou. Ai de quem não me levar”, brinca Esmeralda, que ainda deixa um conselho. “Geração de hoje em dia tem que aprender a se aborrecer menos, ignorar e entender que às vezes você não vai mudar o outro”, finaliza.
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